2002. Para otimizar o espaço e recursos, a agência onde eu trabalhava decidiu mudar o estúdio de finalização para o outro lado da Av. Faria Lima. Eram 14 máquinas, entre PowerMacs G3 e G4. Tempos de Mac OS 9.2.2. O MacOS X ainda não rendia na esponja. A mudança não era complicada e para agilizar e não gastar muito, contratamos um carreto. Bastava descer as máquinas pelo elevador, atravessar a avenida (literalmente, os prédios ficavam quase de frente um para o outro) e subir para o novo estúdio.
Organizamos a mudança para um sábado logo cedo. E fui acompanhar para dispor as máquinas de acordo com o grau de supervisão que exercia sobre os asseclas do estúdio.
A máquina que eu usava, como chefe de estúdio, era um recém-lançado (PowerMac G4) Quicksilver, show de bola. Entre minhas atribuições estava checar o trabalho que saía e, para isso, colocamos um segundo HD de 120 GB (se não me falha a memória). Depois de conferido, eu fechava o PostScript e enviava para o servidor OPI. Só então fazia becape em mídia externa (DVDs). Ou seja, os trabalhos finais estavam na máquina até serem copiados para os discos.
Tudo ia bem, carregamos a Kombi (aquele modelo caminhãozinho, com borda de madeiras pintadas na traseira). Atravessamos a avenida e começamos a descarregar. Eu, folgadão, só assistindo. De repente, vejo a minha máquina, que fora colocada na borda da caçamba esperando o carregador, escorregar e cair da Kombi.
Gelei. Pensei nos becapes que ainda não tinha feito, nos trabalhos e sábados que perderia refazendo tudo.
O Quicksilver quicou no chão, batendo a alça inferior dianteira, que funcionou como uma mola. E eu vendo tudo em câmera lenta. Subiu novamente, deu uma cambalhota completa e mais meia no ar, batendo novamente com a alça traseira superior no chão. Mais uns quiques menores, batendo a alça superior dianteira e aterrissou no chão, sobre a porta lateral, que ficou semi aberta.
Depois de amaldiçoar o sujeito que deixou a máquina na beirada e a mim mesmo por não a ter tirado de lá, corri para ver o grau da destruição. Sem virar o Mac (parecia coisa de bombeiro socorrendo um acidentado), levei-o para cima. Desvirei cuidadosamente, chequei conexões físicas, parafusos, rachaduras nas placas, encaixe de tudo o que conseguia ver.
Coloquei-a de pé, notando que a porta tinha ficado um pouco torta, e não fechava direito. Conectei monitor, teclado e mouse e liguei na tomada. Apertei o botão no painel frontal e… PLAAAAAMM!
Carinha feliz na tela.
Os dois discos montaram certinho no desk. Abri praticamente todos os arquivos finalizados e não havia nenhum problema. Rodei o Norton Rescue (acho que era esse o nome) para ver se havia erro em discos ou arquivos. Nada. Tudo certo. Rebuild no desktop. Tudo certo.
Restou alguns arranhões na maçã da porta lateral, um trincadinho minúsculo na alça superior traseira e só.
Usei a máquina por um bom tempo, até o começo de 2004, quando saí da agência. Mas soube que ela ficou lá, servindo por mais um tempo.
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Alexandre Mello é publicitário e diretor da Personal Agency.
Devia ter chutado essa porcaria enquanto estava quicando.
O cara gasta uma fortuna para comprar essa TV de cozinha da Barbie e economiza contratando uma mudança de Kombi…
Tsc… Tsc…
Nossa, fiquei lendo e imaginando, no pior estilo filme de terror de mais alto grau, daqueles que a gente sente medo só de ouvir a trilha sonora…
E a cada quique que ele descrevia, meu coração parava e voltava!!!
Espero que coisas assim nunca mais aconteçam, é demais pra mim!!!