O causo do mouse interno

TK 3000 //eAcredite se quiser, caro leitor, mas eu tive um micro com mouse interno. Na década de noventa! Pode lhe parecer absurdo, um mouse interno, mas é verdade. Não sei se houve outros e se fui o primeiro a ter uma coisa dessas. Pode parecer brincadeira mas vou contar-lhe como foi que realmente aconteceu.

Meu primeiro computador foi um TK 3000 IIe, da Microdigital, um clone muito bom do Apple IIe. Tem um monitor com tela de fósforo verde, dois drives para os disquetes, placa TKWorks com 512 KB, uma impressora matricial Epson LX 800 e funciona até hoje. Comprei-o, usado, em 1988. Era um clone mas eu o curtia como se fosse um legítimo Apple. Mesmo com toda minha ignorância informática, era-me possível perceber que estávamos à frente e eu me sentia muito bem com isso. Virei um defensor apaixonado da marca, mesmo sem ter contato com outros usuários. Virei um applemaníaco. Comprava a revista InCider, raríssima e caríssima e ficava sonhando com HDs de 20 MB, mouse, coisas inacessíveis para a maior parte de nós. Programas, naquela época, só pirata mesmo. Existiam os “clubes” que nos vendiam montes de programas e programinhas, crackeados e gravados em disquetes de 5 1/4″.

Com o passar dos anos, sem qualquer atualização, pois era tudo muito caro, muito longe e difícil, acabei ficando ilhado, cercado por PCs, por todos os lados, esperneando e tentando, quixotescamente, mostrar a superioridade do meu obsoletíssimo equipamento. Isso, até 1995, quando comprei um Performa 630, zerinho, meu primeiro Macintosh. Ah, como foi bom… mas isso é outra história.

Por razões de saúde, estresse galopante, em 1991 acabei solicitando um afastamento de minhas atividades letivas em São Paulo e fui para Ribeirão Preto, trabalhar num grande sistema agrícola de um amigo meu. Instalado na sede de uma fazenda extraordinariamente bonita, fazia ensaios agroindustriais ecológicos e participava da administração do sistema.

Registrava e organizava todas as minhas atividades nos disquetões do TK, usando a planilha, o processador de texto e o módulo de desenho do AppleWorks 2.1. Imprimia, lenta e barulhetamente, relatórios, atas de reuniões, cartas e planilhas.

Certa vez, fiquei de cama com gripe e passei uns tempos sem ir à fazenda. Quando voltei a trabalhar, fui usar meu TK e logo percebi que ele estava estranhíssimo, sendo que um dos drives não funcionava. Mesmo sem entender muito das coisas, eu estava acostumado a reapertar chips, limpar contatos de placas etc. quando surgiam algumas anomalias, pois os maus contatos eram comuníssimos nessa época. Assim, preparei-me para dar uma reapertada e limpeza geral nas entranhas da máquina.

Mas logo que abri a tampa corrediça, vi num dos cantos do gabinete um amontoado de papel picado! Pois, acreditem, era um ninho de camundongo!!! Por sorte, vazio, pois o bicho deve ter fugido com a minha aproximação. Mas na minha ausência o danado entrou no micro, fez seu ninho e roeu parte dos cabos dos drives.

Era um verdadeiro mouse interno mas não era uma inovação tecnológica… Não apenas inútil mas muito mais perigoso que os vírus e quetais que vivem assombrando os pecesistas.

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Ulisses Moraes é applemaníaco de longa data.

4 Replies to “O causo do mouse interno

  1. Sim, Hartley e por muitos anos. Eu recuperei os cabos e tudo ficou novo. Mesmo depois que comprei o Performinha 630, o TK IIe continuou em uso na fazenda, servindo bem aos meus propósitos. Lembro-me de que quando terminava o serviço e saía já com noite escura, olhava para o céu e enxergava estrelas e tudo mais bem vermelhos! Isso por causa do monitor de fósforo verde.
    Um dia crio coragem e vou pô-lo para funcionar para tentar recuperar uns arquivos que ainda me interessam e só existem nos disquetões. Talvez não consiga porque estou morando muito perto do mar e vejo as coisas se estragando pela maresia.

  2. Ulisses, no final das contas depois da desinstalação desse periférico, você conseguiu colocar o TK para funcionar de novo?

    Nunca tive contato com micros dessa época, mas também guardo uma pilha de disquetes de 5 1/4″ que funcionam até hoje, recheados de softwares garimpados nas BBSs! Bons tempos aqueles!

  3. Pois é, Sidney, o micrinho era mesmo muito poderoso para a época. Mas eu demorei um tanto para entrar na informática, pois embora gostasse muito de eletrônica, ficava muito irritado com as frequentes panes que via e bastante desconfiado quanto à segurança dos dados.
    Foi um amigo/colega de trabalho, o Peter Urmenyi, meu guru informático durante muito tempo (que, a propósito, sumiu), quem me levou a comprar o TK da Microdigital. Garantia que era diferente, bastante seguro e eficiente. E assim foi.
    Comprei-o para digitar, guardar e imprimir a dissertação de mestrado da Celia, minha esposa, um “tijolo” de 212 páginas impressas, devidamente acondicionado em 5 disquetes Nashua de 5 1/4″ que guardo até hoje e que talvez funcionem, ainda.
    Um abração.

  4. Ulisses, nunca tive um mouse interno, mas possuí um micro exatamente igual ao seu. Foi nele que comecei a me informatizar. E naquela época era mais do que suficiente. O TK3000 IIe da Microdigital era ótimo. Foi nele que escrevi meu progeto de tese para o Doutorado em Antropologia Cultural da Universidade de Brasília. E quando comecei o curso ainda o usei por muito tempo. Só fui trocá-lo por um PC com HD de 40MB quando o Collor assumiu e tomou a nossa grana que estava na poupança. Então, usei o dinheiro que estava na poupança para comprar o PC. E olhe, amigo, naquela época o meu Microdigital me era mais do que suficiente. Lembro-me de como meus meus amigos me invejavam por algumas tarefas que eles não tinham como automatizar por não possuírem um igual. Um abraço applemaníaco.

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