Há 30 anos, a World Wide Web mudava o mundo para sempre

Tim Berners-Lee em seu laboratório no CERN, ao lado de um NeXTcube, computador que usou para criar a World Wide Web nos anos 90.

No início, a Internet não era tão popular. Não porque não houvesse computadores que pudessem acessá-la de maneira plena, mas porque era quase tudo texto, pouco interessante, e ainda difícil de usar.

Para ler um simples artigo, por exemplo, era preciso saber em que máquina estava o documento e dar um jeito de conectar seu computador diretamente a este servidor. Além disso, os protocolos e padrões ainda eram incipientes e fazer dois equipamentos de marcas diferentes se entenderem era muito complexo, cada empresa fazia do seu jeito.

Mas algo iria mudar este panorama. Há mais de 30 anos, um físico britânico do renomado CERN (Conselho Europeu para a Pesquisa Nuclear) localizado em Genebra, na Suíça, estava preocupado com o caos que era a comunicação entre os projetos da instituição.

Tim Berners-Lee, à época nos seus trinta e poucos anos, tinha em mente que quase tudo que se precisava saber no seu dia-a-dia estava escrito algures e tinha quase certeza que estava dentro de algum computador em algum lugar. “Era muito frustrante que o esforço das pessoas em digitar estes documentos não estivesse sendo usado quando, na verdade, se tudo pudesse ser ligado e disponibilizado de alguma maneira, tudo seria muito mais fácil para todos”, refletia. Foi então que ele escreveu um resumo de sua ideia para uma solução, baseado nos conceitos dos hipertextos, documentos que podem ser ligados uns aos outros.

“Vaga, mas interessante”, escreveu seu chefe na época no documento da proposta, aparentemente mostrando desinteresse. Berners-Lee não desistiu da ideia, no entanto, e continuou trabalhando no projeto, montando cada um de seus componentes:

  • o URL, padronização para a representação do local de um documento;
  • a HTML, linguagem para descrever as páginas dos documentos;
  • o HTTP, protocolo para a comunicação ou envio de arquivos de um servidor (onde está o documento) para um cliente (quem quer ler o documento);
  • um http daemon (ou como conhecemos hoje: um servidor Web), que ele deu nome de CERN httpd;
  • um http client (um cliente HTTP ou como chamamos hoje: um navegador), que ele deu o nome de WorldWideWeb (algo como “teia que estende pelo mundo”, em tradução livre)

A maior parte do código que rodava na Web foi desenvolvida na linguagem C nos dois computadores NeXTcube que Tim Berners-Lee tinha em seu laboratório. Sim, essas máquinas foram fabricadas pela NeXT, Inc., fundada por Steve Jobs quando ele se demitiu da Apple em 1985. Pois é, a Web foi criada em computadores projetados por Steve Jobs!

Este foi o NeXTcube usado por Berners-Lee para desenvolver e executar o primeiro servidor, navegador e editor para WWW. Foto: Philip Toscano/PA Wire/dpa/picture Alliance

O resultado do trabalho foi revelado ao público há exatos 30 anos: em 30 de abril de 1993, os pesquisadores do CERN lançaram a World Wide Web, o estopim para a ascensão e domínio global da Internet.

Muito disso se deve não só à simplicidade e coesão da tecnologia desenvolvida por Berners-Lee, mas também pelo fato dela ser de domínio público, não ser proprietária. Assim, hoje qualquer pessoa pode construir seu próprio lugar na Web (um sítio Web ou website) com textos, imagens, vídeos e áudios. Pode-se até mesmo enviar os leitores para outras páginas ou outros lugares, tornando uma realidade a conexão entre páginas e documentos localizados computadores diferentes, conceito imaginado por Berners-Lee 30 anos atrás.

Ah, sim! A página original da WWW continua publicada aqui: http://info.cern.ch/hypertext/WWW/TheProject.html.

Inventor e defensor da neutralidade da World Wide Web

Tim Berners-Lee foi uma das vozes pioneiras em favor da neutralidade da rede, um princípio de não discriminação cujo objetivo é preservar uma Internet aberta e de finalidade geral, facilitando a participação ativa do usuário bem como o pleno gozo dos direitos fundamentais de todos os internautas. Ele manifestou a opinião de que provedores devem fornecer “conectividade sem restrições” e não deveriam nem controlar nem monitorar as atividades dos navegadores dos clientes sem o seu consentimento expresso.

Em 1994, Berners-Lee fundou o World Wide Web Consortium (W3C), composto por várias empresas que estavam dispostas a criar normas e recomendações para melhorar a qualidade na Web. Berners-Lee deixou sua ideia disponível livremente, sem patente e sem royalties devidos. Assim, o World Wide Web Consortium decidiu que as suas normas deveriam ser baseadas em tecnologia livre de royalties, de modo que pudessem ser facilmente adotada por qualquer pessoa.

Em 2004, Berners-Lee foi nomeado “cavaleiro” pela Rainha Isabel II, tornando-se Sir “por serviços prestados ao desenvolvimento global da Internet”.

Sir Tim Berners-Lee tuitando na abertura das Olimpíadas de Londres 2012.

Berners-Lee recebeu o título de “Inventor da World Wide Web” na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão em Londres em 27 de julho de 2012. Sir Tim esteve presente e tuitou “Isto é para todos” em um antigo computador NeXT.

Author: Marco Andrei Kichalowsky

Editor-chefe do macnarama.com, é applemaníaco e trabalha com produtos Apple desde 1993. Foi presidente do Brasil Apple Clube durante 10 anos e colaborador da saudosa Macmania e sua herdeira MAC+ até o fim da revista em 2015.

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