Deixe-me compartilhar a história da minha vida e por que o anúncio da Apple sobre as pessoas poderem elas mesmas reparar seus aparelhos é um grande notícia para mim.
Em 2003, eu estava tentando consertar meu iBook “clamshell” e pesquisei o manual técnico. Tudo o que encontrei foram páginas que foram removidos por causa de uma notificação DMCA Takedown.
Encontrei meu jeito e consertei o computador, mas foi mais difícil do que deveria ser. Quebrei abas e travas. E por causa dessa frustração, comecei o iFixit para garantir que ninguém mais sofresse como eu.
A Apple foi o primeiro fabricante de eletrônicos com manuais licenciados Creative Commons de código aberto para cada produto que vendeu — porque eu fiz isso por eles. Desde 2003, o iFixit desmontou sistemática e meticulosamente cada aparelho novo. Cada iPod. Cada MacBook. Cada iPhone.
Suamos, amaldiçoamos e sangramos, fazendo engenharia reversa do processo de reparo, muitas vezes obscuro. Um dispositivo após o outro, publicamos instruções simples e fáceis de seguir. Nosso objetivo é tornar o reparo tão fácil que talvez você prefira consertar algo em vez de comprar um novo.
Às vezes, perdemos alguma coisa. Antigamente, havia um MacBook que podíamos atualizar uma placa Wi-Fi. As instruções do iFixit diziam: basta removê-la e colocá-la de volta. O que não percebemos é que, se você instalasse a placa ao contrário, ele fritava o computador. Ai.
Somos uma wiki e, por isso, nossos membros resolveram o problema rapidamente — mas não antes de alguém nos brindou com seu aprendizado sobre a máquina do jeito mais difícil. O manual de serviço interno da Apple documentava o problema, mas não tínhamos acesso.
E é por isso que isso é tão importante. Consertar coisas é inatamente humano: nós fazemos coisas e elas quebram e nós as consertamos. Estamos constantemente em guerra com a entropia, empurrando para trás as forças do caos um pouco de cada vez.
O direito de consertar tem a ver com a ideia de que estamos todos juntos nisso. Os proprietários e os fabricantes de produtos precisam trabalhar juntos para fazer com que durem os produtos incríveis dos quais dependemos. Nenhum deles pode fazer isso sozinho.
Mas não é o suficiente — a comunidade simplesmente não consegue acompanhar. E algumas empresas estão começando a entender isso. Motorola, Patagonia, HTC e outros começaram a compartilhar, e isso é realmente empolgante.
É uma responsabilidade conjunta e, nas últimas décadas, muitos fabricantes têm evitado assumi-la. Eles pararam de vender peças. Enviaram advogados atrás de gente como Tim Hicks, um garoto australiano que só queria compartilhar manuais de serviço com seus amigos.
O anúncio da Apple pode parecer uma coisa pequena: eles vão publicar manuais gratuitos e vender peças para seus clientes. Mas é uma mudança total de perspectiva. É um acordo de que esta é uma parceria. Estamos juntos nesta nave estelar Terra cruzando o universo.
Os recursos são escassos e preciosos. Fazer eletrônicos requer muita energia e CO2 e o planeta está ficando cada vez mais mais quente. É uma grande quantidade de material, carbono e trabalho humano para fazer um iPhone. Vamos fazê-los durar!
Portanto, obrigado ao pessoal da Apple que fez isso acontecer. Mudar o curso de uma grande nave não é fácil.
O direito de reparar continua a ser necessário por todos os motivos pelos quais a Apple fez este anúncio. Precisamos nos transformar em uma sociedade onde consertar e manter as coisas é o padrão, não a exceção.
Este único anúncio não desfaz os anos de danos que as práticas de design da Apple, o enfraquecimento dos padrões ambientais e o lobby cínico causaram. A indústria ainda está em um caminho sombrio de obsolescência por enquanto.
Mas há esperança! Hoje é um bom dia. Vamos nos unir, empurrar para trás a entropia e ajudar outras empresas nessa jornada.
(O texto acima é a tradução de um tuíte de Kyle Wiens, fundador e CEO do iFixit, uma página tipo wiki que ensina as pessoas a consertar praticamente tudo, inclusive equipamentos Apple. Nós do Macnarama aprendemos muito com o iFixit. Muito obrigado, Kyle!)